Lutar contra a corrupção vale a pena

Georg Kell, diretor executivo do Pacto Global da ONU, fala com exclusividade ao Instituto Ethos

No último dia 4/11, na Estação Sustentabilidade da HSM Expomanagement 2014, o diretor-executivo do Pacto Global do ONU Georg Kell fez a abertura do workshop “Sistemas de Compliance: mitigação e prevenção de riscos”. Organizado pela Rede Brasileira do Pacto Global, esse workshop discutiu o papel do setor privado no combate à corrupção e a importância de uma empresa instituir um sistema de compliance.

Kell veio ao Brasil especialmente para a reunião da Rede Brasileira e para este evento e conversou com o Ethos a respeito do Pacto Global e do combate à corrupção no país. A seguir, alguns trechos desta conversa:

Instituto Ethos – Recentemente, o Congresso brasileiro aprovou a Lei Anticorrupção Empresarial que, agora, aguarda regulamentação. Como o sr. avalia este marco para o combate à corrupção no país?

Georg Kell – Considero uma legislação muito positiva e promissora. Mas, como qualquer lei, precisa sair do papel para cumprir sua função. A sua utilidade para trazer mais integridade e transparência ao ambiente de negócios dependerá da sua implementação. Eu realmente torço para que os governos, as empresas e a sociedade no Brasil realizem esforços para que esta lei cumpra a sua função.

IE – Como leis similares em outros países contribuíram para melhorar o ambiente de negócios?

GK – Há claras evidências de que legislações anticorrupção empresarial nos Estados Unidos, no Reino Unido e agora na China vêm causando impactos altamente positivos nos negócios e no mercado. Pesquisas nesses países indicam que os empresários consideram menos arriscado fazer negócio com os governos e mesmo com o mercado desde a aprovação dessas leis.  Como houve punições a corruptos e corruptores, estas leis de fato funcionam como fortes marcos de dissuasão, de que não vale mais a pena praticar qualquer ato de corrupção. Do ponto de vista empresarial, a lei anticorrupção funciona como aviso, consciência e prevenção de atos ilícitos contra a Administração Pública. Para a sociedade, quando bem aplicada, a lei contribui para o aumento de confiança nas instituições.

IE – Qual o papel do Pacto Global da ONU, hoje?

GK – Considero ser fundamental o papel do Pacto Global no combate à corrupção. Em primeiro lugar porque, com nossas redes espalhadas por 80 países, podemos contribuir de maneira decisiva para encontrar soluções em nível nacional a partir de experiência internacional. Em segundo lugar, porque, por meio dos Princípios de Investimentos Sustentáveis, conjunto de melhores práticas globais para o investimento responsável desenvolvimento pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), o Pacto Global consegue promover mudanças massivas na educação financeira, mostrando a importância da integridade e da transparência para o desenvolvimento sustentável. Finalmente, em terceiro lugar, porque temos mobilizado empresas, sociedades e pessoas em todo o mundo para o combate à corrupção.

Lembro também que este ano, em 9/12, vamos comemorar o 10º aniversário do 10º. Princípio do Pacto Global, justamente aquele do combate à corrupção:

“As empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina”.

Já se comprometeram com esse princípio 165 entre as maiores empresas do mundo. Queremos que esse número seja exponencialmente crescente.

IE – O sr.  acha possível vencer a corrupção?

GK – Sim, sem dúvida. A corrupção está em todo o lugar e manifesta-se de várias formas. É possível, em certos países, comprar leis, manter os pobres mais pobres e acabar com a confiança nas instituições democráticas. Trata-se de um câncer que exige longo tratamento, mudanças de comportamento e de cultura e muito esforço para livrar-se dela. Mas, com boas leis e boas práticas de transparência e integridade nas empresas, nos governos e na própria sociedade, a corrupção deixa de ser algo sedutor.  Seu combate nunca será perfeito, haverá sempre “algo a mais” a fazer. Mas é possível, hoje, afirmar que a luta para vencê-la é mundial e mobiliza amplos setores da economia, a sociedade civil e os governos. Por isso, vale a pena lutar.

Por Cristina Spera, Instituto Ethos