Fósforo

Fósforo é o chamado falso eleitor, aquele que vota por outro. A expressão surgiu na época do Império, quando as urnas eram assemelhadas com uma caixa de fósforo, e aqueles que fraudavam a votação eram chamados pejorativamente de fósforos porque "riscavam em qualquer urna".

Na Primeira República, em áreas mais propícias aos vícios eleitorais, como o Rio Grande do Sul, os fósforos se multiplicaram. Uma disposição da Lei nº 58, editada em janeiro de 1897 por Júlio de Castilhos, determinava não caber às mesas eleitorais "entrar na apreciação da identidade da pessoa do eleitor, qualquer que seja o caso". Isso permtia, segundo o comentário de Mem de Sá, "a qualquer preto retinto votar com o título de um teuto chamado Hans Bernstein." (Sá, Mem de. A politização do Rio Grande, Tabajara, 1973, p. 27).

Um romance de Mário Palmério, retratando a deformada realidade eleitoral de um pequeno município de Minas Gerais, fez referência ao fósforo Doquinha de Joca Bento: "... Do Doquinha, então, contavam horrores; na penúltima eleição, o tipo pintara e bordara. Votou, a primeira vez, barbudo, representando o velho Didico, morto havia mais de um ano; fez a barba, deixando o bigode, e foi para outra sessão votar em nome de um tal de Carmelita, sumido desde meses; tirou o bigode e, com a cara mais limpa e lavada deste mundo, preencheu a falta de outro eleitor; e dizem ainda que votou mais de uma vez, de cabelo oxigenado e cortado à escovinha, substituindo um rapaz alemoado..." (Palmério, Mário. Vila dos Confins, Rio de Janeiro, José Olympio, 1956, p. 320).

FONTE:
Dicionário do Voto - Walter Ramos Costa Porto - Imprensa Oficial - 2000